A trombose venosa é uma patologia frequente e com consequências potencialmente letais, estando associada a uma conotação clínica particularmente negativa. É por isso relevante compreender a sua fisiopatologia e orientação. Nesse sentido é importante separar as etiologias da trombose venosa superficial (TVS) e da trombose venosa profunda (TVP), uma vez que são patologias distintas, com diferentes complicações e orientação terapêutica.
A TVS é uma patologia que geralmente está associada a varizes do membro inferior, e cuja fisiopatologia está intrinsecamente relacionada com a estase venosa que se cria nestes vasos. A apresentação clínica mais frequente é dor, rubor e endurecimento ao longo do trajeto da veia. Embora o diagnóstico possa frequentemente ser clínico, deve ser sempre realizado ecodoppler, quer para confirmação diagnóstica, quer para excluir atingimento do sistema venoso profundo. A sua orientação terapêutica tem alguma subjetividade, não havendo uma abordagem totalmente consensual. A maioria dos casos beneficia de hipocoagulação em dose intermedia durante 40 dias, associada analgesia oral e tópica durante uma semana. Nos casos mais severos ou se objetivada progressão do trombo até à junção safeno-femoral pode haver benefício em introduzir hipocoagulação em dose terapêutica, embora a duração do tratamento e os casos concretos em que deva ser instituída não estejam bem esclarecidos. Após reversão do quadro clínico agudo o doente deve ser orientado para tratamento cirúrgico das varizes.
A TVP é uma patologia mais complexa, com consequências potencialmente mais graves. Embora a presença de varizes aumente o risco de TVP, esta etiologia, ao contrário da TVS, não é considerada uma complicação direta da insuficiência venosa crónica. Apesar do quadro clínico mais frequente ser dor e edema assimétrico do membro, ele é significativamente mais variável que o da TVS, devendo o diagnóstico ser sempre realizado por ecodoppler. A orientação terapêutica passa pela hipocoagulação em dose total, não tendo sido encontrado benefício claro com qualquer intervenção adicional. A duração da hipocoagulação está relacionada com a causa da TVP. Se for encontrado um fator de risco transitório, como cirurgia recente ou período de imobilização, a recomendação são 3 meses de tratamento. Em caso de TVP idiopática, o doente deverá ser anticoagulado por tempo indefinido. Em contexto de neoplasia a hipocoagulação deverá ser até resolução total do quadro oncológico. A associação de terapêutica de compressão com meia elástica pode ser ponderada para alívio sintomático, embora não esteja associada a diminuição de risco para síndrome pós-trombótico.